Calendário 24/06/2009 - 00:00

Após comandar seu primeiro treinamento no São Paulo, Ricardo Gomes foi oficialmente apresentado como técnico do Tricolor. Em uma sala de imprensa muito concorrida, com 22 câmeras e mais de 80 profissionais, o novo treinador falou por quase 50 minutos com os jornalistas. Confira.


 


– Chegada ao São Paulo


“Primeiro, gostaria de agradecer o convite do presidente e do apoio de todos. Vou fazer de tudo pra corresponder. Decidi ficar no Brasil, pois a minha família estava aqui e um convite de um clubes desse porte não se recusa”.


 


– Apoio de parte da torcida ao Muricy


“É um treinador que fez história no clube e ainda bem que a torcida o reconhece por tudo o que ele fez durante esse prazo. Ele fez por merecer. São raros os treinadores que conseguem esse apoio. Isso entrou pra história. Os dirigentes acharam que era o momento de mudar, eu sei que é uma tarefa difícil começar tudo depois de três anos e meio, mas o São Paulo é um grande clube. Se fosse um outro clube seria impossível que ele tivesse essa grande história”.


 


– Pensa em trocar ideias com o Muricy?


“Vou tentar o mais rápido possível conversar com ele sim. Algumas vezes falei de contratações com ele e o Milton. Claro que depende da disposição dele, então tudo isso vamos dar tempo ao tempo, mas tenho intenção de falar com o Muricy”


 


– Pretende trazer jogadores para esse grupo?


“Vou tentar, mas pra isso preciso do dia a dia. Vi muito o time de 2008, mas pouco o de 2009. Vi alguns jogos desse ano em DVD, mas é algo completamente diferente, nada substitui o dia a dia. Daqui a dez, 15 dias, terei condições de falar se precisamos de algo”


 


– Se preocupa com a possibilidade de não se autofirmar como técnico?


“Não penso se vou me firmar ou não, não é por aí. Realmente penso só em melhorar a classificação do clube, tentar colocar já no fim do primeiro turno o clube em condições de chegar nos primeiros lugares. Mas, se não der certo, se não fizer um bom trabalho, não é isso que me preocupa. A minha preocupação hoje é recuperar o São Paulo em termos de classificação”


 


– Dificuldades ao retornar do exterior para o Brasil


“Eu conheço os elencos dos times grandes do Brasil bem, porque passei muito tempo tentando reforçar o Mônaco. As dificuldades podem ser não conhecer muito bem os adversários de menos expressão. O time do São Paulo de 2008 eu vi 20 vezes, sem nenhuma intenção, porque queria contratar alguns jogadores. Mas a dificuldade é conhecer os adversários que têm menor visibilidade”


 


 


Disputa por posição


“Evidente que o jogador quer jogar, não quer ficar no banco. Se ele está satisfeito em ficar no banco, pior ainda. Pode ficar com a cara amarrada, mas trabalhando bem. Aqui, o jogador tem que ganhar a posição no campo, não é dando entrevista. Não tenho medo de cara feia, mas tem que dar o máximo pra estar no time. Cabe a mim esse julgamento e será com muita honestidade”.


 


– Esquema de jogo


“Acho que essa escolha feita pelo Muricy não estava errada porque o ponto forte do elenco eram os zagueiros. O treinador chega pra trabalhar e analisa qual é o ponto forte e vai armar a equipe em cima disso. Claro que meus auxiliares vão me passar muita coisa. A minha preferência é o 4-4-2, no entanto, o mais importante é a minha análise do elenco. Eu tenho uma idéia, mas não tenho o dia a dia”


 


– Como será trabalhar com membros da comissão que já estavam aqui?


“Nunca trabalhei com o Milton, mas já falei umas mil vezes por telefone, sem exagero. Cada contratação de Brasileiro na França era uma ligação. O Carlinhos já trabalhou comigo na seleção pré-olímpica, e com certeza as coisas se encaixarão”


 


– Por que acha que poderá melhorar a situação do São Paulo?


“O São Paulo é tricampeão brasileiro, tem uma estrutura completamente diferente de tudo e não é de hoje. Eu conheci grandes treinadores e jogadores daqui desde a minha época de atleta. Cilinho, Telê e Muricy fizeram história, isso é muita coisa em pouco tempo. Nos últimos 20 anos, que foi o que eu acompanhei, o São Paulo fez a diferença no Brasil”.


 


– Passar confiança aos jogadores


“Pelos dois ou três jogos que pude acompanhar, a equipe entra jogando bem, como time grande, domina a posse de bola, só que você tem que traduzir isso em perigo ao gol adversário. Isso é o que não vem acontecendo. De longe, acompanhando, acho que confiança não pode faltar. Se perdeu, no próximo jogo tem que entrar com confiança, não pode perder isso”


 


– Pretende usar jogadores da base?


“Faz parte da história do São Paulo revelar grandes jogadores e já sofri um pouco com isso quando enfrentava o time deles como atleta. Já notei hoje bons jogadores, que vão nos ajudar. Gosto de trabalhar dessa forma, trabalhei assim na seleção, fui obrigado a trabalhar assim no Mônaco, com uma zaga de 19 anos. Se for utilizar, se a solução é garotada, aí será necessário um tempo muito maior para o nosso trabalho”


 


– Elogios de Kaká e Raí


“Agradeço, claro. O Kaká foi meu capitão na seleção e o Raí o PSG. Estamos falando de dois grandes jogadores e eu agradeço imensamente o apoio dos dois. Conheci o Raí em Londres, em 1987, em uma seleção olímpica. É um amigo de longa data. Pena que não posso ter o Raí e o Kaká juntos pro treino da tarde (risos). O Kaká dispensa comentários. O convoquei pra um torneio no Qatar, era um preparatório em janeiro de 2003, com certeza é um jogador diferenciado, inteligente dentro e fora de campo. O São Paulo tem muita sorte de ter perdido o Raí e ganhado o Kaká”


 


– Relação com a imprensa


“A palavra pra gente é o respeito. Não tem problema nenhum ter crítica, mas tem que ter respeito. Vou ficar à disposição de vocês pra qualquer coisa se nossa relação for de respeito”


 


– Rogério Ceni


“Conversei com ele, é um líder, vai continuar exercendo essa liderança, infelizmente, fora de campo. Estou contando os dias pra volta dele, esperamos que ele volte rapidamente porque ele faz a diferença. A vivência dele aqui no São Paulo não tem preço”


 


– Hernanes


“Ele é um excelente jogador, e má fase acontece com todo mundo. Quando convoquei o Kaká, ele estava sendo questionado no São Paulo e hoje é o que é. Vamos fazer de tudo pra recuperá-lo. Acredito que é um período difícil e que ele vai se recuperar”


 


– Treinamento do dia


“Os dois exercícios que foram executados hoje foram com intuito ofensivo. Já comecei a exercitar pra tentar traduzir esse domínio da equipe do São Paulo na área adversária. Tinha que explicar pros zagueiros porque estavam sofrendo com a intensidade”


 


Fotos: VIPCOMM

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