Calendário 5/03/2010 - 00:00

“O São Paulo é zebra”. Assim dizia a crítica especializada em
1977. Ao término do Campeonato Paulista daquele ano se classificara
em terceiro lugar. O bicampeão Internacional, de Falcão; o Atlético
Mineiro, de Cerezo; o Fluminense, de Rivellino e o Flamengo, de
Zico, eram mais cotados ao título. Mas o Tricolor se preparou bem
para o certame. Trouxe do sul o também – e então – bicampeão Rubens
Minelli, o capitão da seleção uruguaia Darío Pereyra e manteve a
boa base que fora campeã paulista de 1975.

A competição seria longa. Fases e mais fases para se decidir o
campeão. Na primeira, o São Paulo se classificara em segundo lugar,
com dezoito pontos, em um grupo de dez times (ficou dois pontos
atrás do Palmeiras). Na fase seguinte, novamente se classificou no
segundo posto, com sete pontos ganhos (desta vez atrás do
Corinthians, também com dois pontos de diferença) e com uma sonora
goleada no então favorito Internacional: 4 a 1 em Porto Alegre –
dois gols de Serginho, um de Zé Sérgio e um de Teodoro.

Na terceira fase, a vaga para a semifinal foi conquistada com o
primeiro lugar do grupo, 11 pontos: uma boa campanha de três
vitórias, um empate e somente uma derrota – para o Botafogo de
Ribeirão Preto, 0 x 1. Naquela partida, descontrolado por ter um
gol seu anulado, Serginho deu um pontapé no bandeirinha. Julgado e
punido, ficaria fora das finais do campeonato.

Então, nas semifinais, um confronto inesperado: São Paulo x
Operário de Campo Grande (MS). Primeira partida, Morumbi lotado
(recorde de público do São Paulo FC até hoje em jogos pelo
Campeonato Brasileiro: 109.584 pessoas), pressão e jogo apertado
até os 32 minutos do segundo tempo, quando Serginho inaugurou o
placar. A porteira se abriu e a partida encerrou-se com 3 a 0 a
favor do Tricolor (Neca e Serginho, novamente, completaram o
placar). Com a boa vantagem acumulada, a derrota fora de casa por 1
a 0 no jogo de volta não atrapalhou. Era a hora da grande final…
 

5 de março de 1978, Mineirão fervendo com 102.974 pessoas. O
Atlético Mineiro decidia o título em sua casa, jogo único, pelo
fato de ter melhor campanha acumulada nas fases anteriores.

Se o São Paulo não teria Serginho, enfim julgado e suspenso pelo
STJD, o Galo não teria também Reinaldo, pelo mesmo motivo.
Estratagemas psicológicos foram adotados de lado a lado, com
ameaças de efeitos suspensivos para os dois jogadores. Rubens
Minelli então ousou, mandou que Serginho fosse à Belo Horizonte com
o restante do grupo, de última hora, e que até aparecesse nos
vestiários trajado com o uniforme de jogo. Foi aquele alvoroço! A
imprensa mineira achou que o Tricolor havia de fato conseguido o
efeito suspensivo.

Desconcentrados pelo diz-que-me-diz dos bastidores, os mineiros
subiram ao campo e foram surpreendidos pela melhor postura dos
jogadores tricolores, que tiveram as melhores chances de gol
durante o jogo: Viana acertou o travessão durante o tempo
regulamentar e o zagueiro Márcio salvou em cima da linha um
cabeceio de Chicão, na prorrogação.

Pênaltis. Primeiro Getúlio, ex-jogador do Atlético, passos
lentos e firmes, toque forte na bola e a defesa de João Leite. A
decisão não começara bem para o São Paulo… 

Era a vez, então, de Toninho Cerezo bater, apoiado por mais de
cem mil vozes aos gritos de “Galô, Galô, Galô”. Veio o chute, chute
alto, acima de Waldir Peres, acima do travessão: para fora! A
esperança tricolor de sair à frente agora estava na cobrança de
Chicão. O Deus da Raça Tricolor, Chicão. Correu e… escorregou.
João Leite defendeu. O título parecia escapar…

O Estádio do Mineirão parecia explodir naquela tarde, princípio
de noite. Ziza colocou o time de Minas à frente. Peres depois
empatou, 1 a 1. Alves recolocou, a seguir, o Atlético na frente.
Antenor, na seqüência, acertou o gol para o Tricolor. Se Joãozinho
Paulista marcasse o seu, com 3 a 1, seria muito difícil recuperar.
Waldir Peres então se destacou, herói, quando o adversário ajeitava
a bola para a cobrança: deixou sua meta e foi ter-se com ele, tirou
a bola do lugar e o provocou. Pressionado, Joãozinho mandou a bola
nas alturas e manteve o empate…

Bezerra, são-paulino, marcou o seu. Que virada! Que reviravolta
na decisão. Agora Márcio, aquele que salvara o galo durante a
partida, teria a responsabilidade de manter o Atlético vivo na
disputa. Waldir Peres então pegou pesado: deu um tapinha nas
nádegas do zagueiro como se o eximisse da responsabilidade – o que
obviamente teve o efeito contrário. Cobrança executada e…
Novamente, bola lá em cima, fora do gol!

O São Paulo assim se sagrava Campeão Brasileiro pela primeira
vez. A primeira de muitas do maior campeão da competição. Um bom
retrospecto para aquele que largara como zebra… Uma zebra
tricolor.

 

 

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